AILTON ELISIÁRIO
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A DOUTRINA PUTIN

 

       O mundo está observando o que pode levar a um conflito armado em larga escala, alcançando o coração do Ocidente. É a possibilidade da deflagração da terceira guerra mundial. A questão, porém, não reside na Ucrânia, embora seja ela de interesse vital para a Rússia. A questão reside em a Rússia proteger suas fronteiras muito extensas e que se encontram expostas nas estepes descobertas da Europa Oriental e do Cáucaso, como eram nas épocas czarista e soviética.

      Desde a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), os sinais do mal-estar de Moscou não eram poucos, gerando uma crescente agressividade discursiva em relação à União Europeia (UE) e contra a hegemonia exercida pelos Estados Unidos da América do Norte. Putin condenou fortemente os esforços do Estados Unidos para construir um mundo unipolar, sem levar em conta a grandeza da Rússia em sua história, criticando a aproximação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) com suas fronteiras, que o levou à posição de não aceitação de aliança do Ocidente com seu vizinho Oriental, a Ucrânia.

       A reconquista de sua esfera de influência, para recuperar a grandeza imperial da Rússia, é o que está por trás das ações da política externa de Moscou e evidencia as aspirações de Vladimir Putin. Esta é a Doutrina Putin: a Rússia deve ser tratada pelo Ocidente como fez com a União Soviética, ou seja, como um poder a ser respeitado e temido, com direitos especiais sobre seus vizinhos e com um lugar à mesa das grandes decisões mundiais. A visão de Putin é a de que a Rússia tem direito inquestionável a uma esfera de influência sobre seus antigos vizinhos soviéticos, que não serão capazes de se juntar a qualquer aliança considerada hostil a Moscou, particularmente à OTAN ou UE.

      A Doutrina de Putin ainda radicaliza mais. Argumenta também que apenas a Rússia, a China, a Índia e os Estados Unidos podem exercer soberania absoluta, sendo livres para escolher suas alianças e determinar suas esferas de influência. Os demais países, a exemplo da Ucrânia e da Georgia, não são totalmente soberanos e devem se submeter às imposições da Rússia, como no Ocidente os países devem agir de acordo com o que ditam os Estados Unidos.

      A visão de Putin se opõe frontalmente a valores inalienáveis de igualdade soberana, liberdade e independência dos Estados e autodeterminação dos povos, valores que formam a base da convivência entre as nações, todos consagrados na Carta das Nações Unidas e outros instrumentos de direito internacional.

      Com tal doutrina, Putin busca mais do que apenas espaço físico e controle dos seus Estados vizinhos. Ele quer restaurar o status de superpotência, perdido com o esfacelamento do império soviético, revertendo assim o que para Putin foi a pior humilhação da história da Rússia.

       Suas ações de ataques à Ucrânia e suas ameaças aos países do Ocidente apontam que para tal fim ele irá às últimas consequências. Por isso, vislumbra-se a possibilidade de uma terceira guerra mundial, mesmo que Putin termine como Hitler. Mas até lá, milhares de inocentes terão sucumbido à sanha devastadora do poder.

Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 09/06/2022
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