NO MAR DA GALILEIA
Ailton Elisiário
Pela manhã saímos para um passeio de barco no Mar da Galileia, local onde Jesus caminhou sobre as águas (Mt 14, 22-23). Ocuparam o barco os grupos da Paraíba e de São Paulo, este tendo como guia espiritual o bispo Dom Eduardo Malaspina, que conduziu a reflexão no meio das águas do lago. Motores desligados, todos em intenso silêncio, a quietude ambiental e a exortação para o lançamento das redes em águas mais profundas. A fé exige avanço, confiança e entrega a Deus.
Saindo do lago, fomos visitar a cidade de Tabgha, lugar onde se deu o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes e o primado de São Pedro. O grupo se juntou para ouvir a passagem de Jo 21, 15-17, refletindo sobre o real significado do amor a Cristo. Ali penetramos na Igreja Mensa Christi, que é uma igreja de ordem franciscana, fundada sobre uma grande pedra de cal.
Mensa Christi traduz-se por Mesa de Cristo e deriva de uma lenda que fala da pedra de cal na igreja ter sido a originalmente usada por Jesus e seus discípulos para jantar após sua ressurreição. Porém, isto é discutível, porque há outra igreja na costa do mesmo lago, a Igreja de São Pedro, que ostenta a mesma coisa. Assim, há duas mesas de Cristo em Israel. Independente disto, porém, tocamos a pedra naquela igreja e as águas do Lago Genesaré, como também é chamado o Mar da Galileia.
Em seguida fomos à Igreja da Multiplicação, o lugar onde se recorda a multiplicação dos cinco pães e dois peixes, com que Jesus deu de comer a uma multidão de cinco mil pessoas (Mt 15, 32-39; Mc 8, 1-9). No pavimento de mosaico encontra-se a imagem dos peixes e o cesto com pães, como selo que ratifica a tradição do lugar. No mosaico veem-se só quatro pães representados. Os beneditinos costumam dar um sentido teológico à falta do quinto pão: é preciso procurá-lo sobre o altar, durante a Santa Missa, identificado com a Eucaristia.
A Igreja da Primazia de São Pedro, ao sul da Igreja da Multiplicação, foi construída sobre rochas na costa do Mar da Galileia, tradicionalmente considerada como o lugar onde Jesus apareceu pela quarta vez após sua ressurreição (Jo 21, 1-24), durante a qual, segundo o ensino católico, Jesus novamente conferiu primazia a Simão Pedro.
Daí nos dirigimos a Cafarnaum, conhecida como a cidade de Jesus, pois nela fixou residência (Mt 9, 1 e Mc 2, 1) e onde realizou muitos milagres. Escavações descobriram casas do Século I, uma igreja cristã octogonal do Século V e uma casa do Século VI, que os arqueólogos acreditam ter sido construída no local em que se admite ter sido a casa de Pedro.
Passamos por Magdala, na estrada entre Nazaré e Cafarnaum, uma cidade próspera de comerciantes e pescadores. Foi lá que Jesus ensinou as multidões e curou os doentes, incluindo uma mulher que fez sua cidade natal muito famosa, Maria Madalena ou Maria de Magdala. As descobertas arqueológicas mostraram uma sinagoga do Século I e a Pedra Magdala, que os arqueólogos consideram ser uma das descobertas mais significativas dos últimos 50 anos. A Pedra Magdala é provavelmente a mais antiga representação artística conhecida do Segundo Templo de Salomão.
Visitamos também a Igreja Duc In Altum, que é muito linda e inspiradora. O termo em latim pode ser traduzido por “Remar mar adentro”” ou “Ir mais além”. Fundamenta-se na instrução de Jesus a Pedro para que lance nas profundezas as redes (Lc 5, 4). Ela é dedicada à vida pública de Jesus, seus encontros transformadores e homenageia as mulheres da Bíblia e todas as mulheres de fé através de seu Átrio feminino.
Como primeiro Papa da Igreja, São Pedro diz com sua autoridade: Escutai as palavras de Cristo que continua dizendo: Duc in Altum. Esse é o ousado pedido que Ele sempre faz aos homens e mulheres no decorrer dos séculos e das gerações.
Duc in Altum é a expressão cristã que anima os homens de boa vontade a serem protagonistas da sua própria existência, a descobrirem que a sua vida tem sentido, a assumirem com vigor no quotidiano o significado e o valor das alegrias e das tristezas, da saúde e da doença, dos sucessos e dos fracassos, do trabalho e do lazer, das insônias e do sono repousado, da abastança e da pobreza, dos encontros e desencontros, da ofensa e do perdão, dos egoísmos mesquinhos e da partilha generosa, das tibiezas e das decisões valorosas, da relação que nos leva a conviver e a crescer como pessoa com aqueles que a vida colocou no nosso caminho.
E tudo isto por amor esperançado, por ajuda mútua, por respeito pela nossa dignidade e pela dignidade alheia, por nos sabermos filhos do mesmo Pai que nos vai ajudando e nos espera no fim do caminho.
Final do segundo dia de caminhada. Repouso em Tiberíades para no dia seguinte continuarmos contornando o Mar da Galileia.