AILTON ELISIÁRIO
Nulla dies sine linea
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EM DIREÇÃO A BERLIM
 
          O Grupo dos 11, como assim ficou chamado nosso grupo pelo guia Ignácio, partiu de Paris em direção a Berlim, percorrendo um trecho pelo rio Reno e outro por rodovia. O grupo estava assim formado: eu, Socorro, Marcos, Nauzuí, Fernanda, Nelma, Aleksey, Roncalli, Iolanda, Ioneide e Cristina. Turma animada, vários deles indo pela primeira vez a Europa, buscando aproveitar ao máximo das delícias da viagem.
          O cruzeiro pelo Reno nos coloca diante de imagens muito bonitas, recheadas de vinhas e castelos que se mostram em ambos os lados do rio, o maior da Europa Ocidental. Tomamos a embarcação em Boppard e desembarcamos em St. Goar, de onde de ônibus fomos para Frankfurt, onde pernoitamos. Este trecho já havíamos feito há 4 anos passados, mas era tudo novo para quase toda a turma.
          O destaque é o rochedo de Loreley com sua lenda. Esse rochedo de 120 metros acima do nível do rio Reno se localiza próximo à cidade de Sankt Goarshausen. Ali, o rio faz uma curva estreita e perigosa, tendo sido palco de muitos naufrágios. Por isso, o rochedo está associado a lendas do folclore alemão. A mais divulgada é a de que Loreley era uma bela sereia de cabelos longos e loiros cantava e desse modo atraía os viajantes para o rochedo, fazendo-os naufragar.
          Outra versão é a de que Loreley era uma mulher muito linda, que vivia na cidade de Bacharach-sur-le-Rhin. Sua vida era sentar-se num rochedo perto da margem e pentear o seu longo cabelo louro, ao mesmo tempo em que contemplava o seu reflexo na água e cantava uma canção com este refrão: – Loreley, Loreley, Loreley!
          A jovem era tão bela, que todos os homens se apaixonavam por ela, sucumbindo aos seus encantos. Era causa permanente de escândalos na cidade, tanto que muitos dos seus amantes, quando sentiam que dela não tinham seu amor exclusivo, caíam em prantos e às vezes se suicidavam.
Certo dia, um bispo persuadido que Loreley era uma criatura do demônio, submeteu-a a interrogatório severo, ao qual Loreley respondeu-lhe com tal franqueza e inocência, que o austero bispo, sentindo-se tocado no fundo do coração, deixou-a em liberdade. Esta, todavia, pôs-se a chorar, dizendo: – Não posso continuar a viver assim! A minha beleza traz a desgraça a todos os homens. Quanto a mim, apenas amei um homem e foi o único que me abandonou.
          O bispo cheio de pena propôs a Loreley que fosse para um convento, para se dedicar a Deus. Ela aceitou com o coração oprimido e pôs-se a caminho, acompanhada por três cavaleiros que lhe serviam de escolta. Chegando a uma falésia que dava para o Reno, ela lhes disse: – Deixem-me contemplar, pela ultima vez, o Reno, para que eu possa dele me lembrar na minha cela. Escalou o rochedo e do alto vendo um barco que vagava no Reno, então gritou: – Olhem aquele barco! O barqueiro é o homem que amo, é o amor da minha vida! E em seguida, atirou-se ao Reno, sem que nenhum dos três cavaleiros a pudesse impedir.
          Desde esse dia, cada vez que um barqueiro do Reno entra no porto, julga ver Loreley transformada em sereia e a chorar, sentada nos rochedos, penteando os seus longos cabelos de ouro. E ouvem-se vozes ao longe, que dizem: – Loreley! Loreley! Loreley! São as vozes dos impotentes cavaleiros, que assistiram a morte de Loreley.
          Loreley entrou para a literatura com o poema do Século XIX de Heinrich Heine, transformado em canção por muitos músicos. Heine a descreveu como uma ninfa que seduzia pescadores com seus cânticos, semelhante às sereias da mitologia grega, em que os marinheiros seduzidos naufragavam com suas embarcações. E às margens do rio Reno lá está a bela estátua de Loreley.
Em Frankfurt degustamos as salsichas alemãs na praça Rommer, local onde da vez anterior eu e Socorro dançamos Aquarela do Brasil, tocada por uma orquestra local. No dia seguinte, antes de chegarmos a Berlim, passamos por Erfurt, a capital do estado da Turíngia, com seu ar medieval ressaltado no seu centro histórico com seus prédios renascentistas, nas torres das 25 igrejas, na catedral Marienkirche de estilo gótico onde Martinho Lutero foi ordenado em 1507, nos 15 mosteiros e conventos, nas 142 pontes que atravessam o rio Gera, dentre as quais a ponte Krämerbrück, construída totalmente com casas habitadas ao longo dela. Se no Brasil “morar debaixo da ponte” significa pobreza, em Erfurt “morar em cima da ponte” significa estilo e riqueza.
          Não houve tempo para conhecer melhor a cidade, mas se sabe que Lutero passou 5 anos estudando no mosteiro agostiniano, o Augustinerkloster e que Erfurt sempre foi ponto de encontro de pensadores. Saindo dessa cidade magnífica com o espírito renascido, preparamo-nos para adentrar Berlim, com uma expectativa de algo muito diferente, cujas impressões as descreverei na próxima crônica.
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 30/10/2017
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