AILTON ELISIÁRIO
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A CRACOLÂNDIA É PAULISTANA
       A revista Veja em sua edição 2535, de 21 do corrente mês de junho, trouxe uma matéria que aponta discriminação em relação ao povo nordestino. Divulga que “a prefeitura de São Paulo quer expandir um programa que paga a moradores de rua e usuários de crack passagens de volta para sua cidade natal”. O prefeito João Dória encomendou aos publicitários uma campanha com o slogan “Pedra no cachimbo, você no ônibus para o Nordeste”.
Um de seus assessores disse que “o objetivo é resolver de uma vez por todas o problema das drogas com uma terapêutica viagem só de ida para qualquer lugar bem longe daqui” de São Paulo. E esse lugar bem longe de São Paulo é o Nordeste do país, pois quando indagado por que as passagens seriam para essa região, ele respondeu: “mas tem morador de rua e craqueiro de outro lugar?” Essa descompostura traduz bem a campanha promocional “compre uma pedra de crack e ganhe uma viagem para o Nordeste” lançada pelo prefeito.
Não é de hoje que o nordestino tem sido alvo de preconceito por tantos dos  habitantes das regiões sul e sudeste do país. Tudo quanto se refere ao Nordeste é tido por eles como ruim. Parece que o Nordeste nada produz e em nada contribui para o país. Esquecidos dos feitos heroicos dessa gente nordestina, a unidade nacional do povo brasileiro se vê desconsiderada com atitudes dessa natureza.
Interessante, porém, é que os políticos quando se candidatam à presidência da República, todos se voltam solícitos aos nordestinos, angariando destes os seus votos. Por concentrar significativa parcela do eleitorado nacional, aí eles se lembram de que o Nordeste é parte integrante da nação e do país. E que o povo nordestino é laborioso.
Essa campanha do prefeito de São Paulo é muito imprópria. Infeliz em sua mensagem, ineficaz em suas ações, inadequada em seus objetivos. A cracolândia não é nordestina, é paulistana. Não há craqueiros nordestinos, há craqueiros de várias regiões do país, inclusive paulistanos e paulistas, que o prefeito não quer dar tratamento correto, mas apenas expulsá-los da cidade, como assim eram tratados os leprosos na antiga sociedade judaica.
        A verdade, porém, é outra. O que se vê é que os craqueiros não estão sendo atendidos a contento e, por conta disso, estão voltando à cracolândia ou ocupando novos pontos em outros locais. O combate ao vício da droga é luta permanente e onerosa, mas que exige também paciência e disposição. Não se resolve o problema dessa forma, mas efetivamente criando condições para exterminar o tráfico de drogas e o vício dos seus usuários.
         Todavia, prefeito, se realmente quer mandar de volta o seu irmão nordestino que aí é penalizado, trate-o bem e depois que recuperá-lo, dê-lhe a passagem se assim ele desejar voltar. Mas, não uma passagem de ônibus, e sim, de avião. Ele merece melhor tratamento, pois se assim se encontra, não é por vontade própria, mas porque foi levado a essas circunstâncias pela frieza da selva de pedra paulistana que o senhor administra.  
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 04/07/2017
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