AILTON ELISIÁRIO
Nulla dies sine linea
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VELHOS CARNAVAIS
       Encontro-me hoje com Socorro neste pleno carnaval de 2017 em ritmo de descanso. Num resort à beira de uma praia pernambucana, vizinha à histórica e também carnavalesca Olinda, ouço os acordes dos  blocos de rua, o vigor sonoro do Galo da Madrugada, os cantares dos artistas conduzindo os foliões subindo e descendo as ladeiras.
E aí, dominado pela espírito de quietude, mas influenciado pela sonoridade trazida pelo vento, resolvo não por minha mente a trabalhar quando todo o país esquece suas agruras  para seguir cantando no reinado de Momo e remexo meus arquivos em busca de  algo que já escrevi para a revisitação dos leitores. Então, encontro esta crônica de 13 de fevereiro de 2002, publicada no meu livro Reminiscências Campinenses de 2013 e ainda atual pelo sabor da saudade dos tempos de minha juventude: Velhos Carnavais. Reproduzo-a vendo e sentindo aquelas imagens inesquecíveis.
"Relembro com saudade os velhos carnavais campinenses. Para minha turma, não existia um tríduo momesco, mas um quinquídio, pois ao invés de três dias de intensa folia eram cinco, cinco porque já começávamos no sábado pela manhã e íamos até o fim do dia da quarta-feira de Cinzas. Isto sem contar as prévias carnavalescas, que eram festas organizadas pelas estações de rádio e pelos clubes.
Havia os bailes e as matinês nos clubes e o Carnaval de rua com os blocos, as escolas de samba, as la ursas, os caboclinhos, os maracatus, os bois e outras troças. Havia também o corso, com os veículos fantasiados, geralmente camionetas e jipes, com as turmas em cima se balançando e cantando.
As orquestras encantavam os foliões nos clubes Campinense, Gresse, Caçadores, Médico Campestre, Paulistano, Aliança 31 e Ipiranga, que fantasiados de reis, rainhas, pierrôs, colombinas, piratas, jardineiras e tantas outras figuras, dançavam e passeavam agrupados e abraçados nos salões, jogavam confetes e serpentinas e perfumavam os seus pares com lança-perfumes, até o raiar do dia.
O rum com a coca-cola era a bebida preferida dos foliões, afora a cerveja e o uísque. Os namoros começavam e por lá terminavam, indo alguns deles mais tempo e chegando alguns aos enlaces definitivos.
Nas ruas as crianças faziam o mela-mela com goma de araruta e maizena, junto às pessoas que passavam nas calçadas. Junto aos carros que trafegavam, molhavam seus ocupantes com propulsores de jatos d’água improvisados. Nas casas, as famílias ligavam os aparelhos de rádio que jogavam em suas ondas as músicas da época. Eram marchas, marchas-rancho, frevos, sambas e canções, das quais muitas delas se tornaram clássicas.
O final de cada Carnaval era magnífico, porém melancólico. Não se queria parar e só se parava porque a orquestra não queria mais tocar. Lembro-me bem quando a orquestra saía do Gresse acompanhando a massa até a Praça da Bandeira, aonde lá os restos dos foliões se banhavam nas águas do canteiro público, onde havia uma estátua da samaritana, num certo dia de lá retirada e nunca mais encontrada.
Eram carnavais-pureza, inocentes, românticos. As pessoas brincavam como crianças, sem maldades, rancores ou maledicências. As máscaras não escondiam rostos, davam aos seus personagens corações felizes, refletindo alegria em todos.
Hoje, nossos carnavais não são mais assim. Transformaram-se em micaremes, mudaram até de época. Desapareceram as orquestras, os clubes, os confetes, as serpentinas, os lança-perfumes, as fantasias e com eles, os pierrôs e as colombinas. Desapareceu o romantismo, a inocência, a pureza. O Carnaval feneceu."
Verdade, o Carnaval tradição não existe mais. Daí as tentativas de ressuscitá-lo, como os desfiles dos antigos blocos pelas ruas das cidades antes do período momesco, como uma espécie de prévia carnavalesca. Válido, mas os pierrôs e as colombinas continuam na saudade.
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 01/03/2017
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