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O PETRÓLEO NÃO É NOSSO
Em crônica de 2014 lembrava a criação da Petrobrás em 1953 por Getúlio Vargas. Dizia que a empresa se tornara o símbolo da economia industrial do país, que o monopólio estatal do petróleo ficara estabelecido afastando-se a tentativa oligopolista das grandes empresas internacionais. Mas indagava se o petróleo era nosso mesmo.
Indagava se o petróleo era nosso mesmo, em face da vitimização da empresa de um plano criminoso de desvios de seus fluxos bancários e de caixa, para financiamentos de campanhas eleitorais, pagamentos de propinas, distribuição acobertada entre os envolvidos, aberturas de contas no exterior e tantos outros mais escuros expedientes. O resultado se fez ver com a queda de cotação de suas ações no mercado mobiliário, o prejuízo estrondoso nos lucros, a descredibilidade internacional da empresa, as ações judiciais promovidas por investidores e outras consequências.
A descoberta do pré-sal trouxe novos ares à Petrobrás, mas as aves de rapina sobrevoaram o filão tentando dividi-lo com as empresas estrangeiras. Agora, com as mudanças no marco legal do pré-sal aprovadas pelo Senado, o projeto de lei abre caminho para outras companhias de petróleo explorarem o pré-sal, perdendo a Petrobrás a condição de operadora exclusiva dos blocos de exploração, com participação mínima de 30% nos consórcios que hoje lhe é assegurada.
O fim da participação obrigatória da Petrobrás na exploração do pré-sal, com a mudança do regime atual de partilha, de certo acarretará mais danos irreparáveis à empresa, lhe sufocando ainda mais as finanças, debilitando-a irreversivelmente. Ademais, o Estado perderá o domínio das reservas naturais de petróleo, deixando a exploração do óleo a cargo das multinacionais. Está se sepultando a memória da luta dos antepassados em defesa dos interesses nacionais pelo nosso petróleo.
O quadro é de total perda do controle do petróleo pelo Estado brasileiro. O estado de falência de fato da Petrobrás já está configurado: a empresa altamente endividada e sua fonte de produção na iminência de ser transferida aos concorrentes. Monteiro Lobato, que na década de 1930 levantou a bandeira pelo petróleo nacional, retorcido na sepultura com o “petrolão” já não goza da paz definitiva, sabendo que o petróleo não é nosso.
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 02/03/2016