RONALDO IMORTAL
Não direi “adeus, poeta”; direi, sim, “a Deus, poeta”. Por que não direi adeus? Porque você, Ronaldo, continuará na memória do povo que você amou. Por que direi a Deus? Porque é a Ele que você irá para receber dEle o seu galardão. E por que poeta? Porque dentre tudo que você foi, jamais deixou de ser poeta.
Você foi político e como tal se doou ao seu povo de coração. Você disse: “a minha doação foi tão completa/ que até mesmo a minha alma de poeta/ não tem mais um só verso pra te dar”. Você foi advogado e como tal em versos peticionou a liberação de um violão dizendo: “mande soltá-lo pelo amor da noite/ que se sente vazia em suas horas/ para sentir de novo o terno açoite/ de suas cordas leves e sonoras”. Portanto, poeta você sempre foi, mesmo no exercício da política e da advocacia. Seus versos seguintes atestam bem isto: “advogado/ dependo da prova de terceiros/ político/ da lealdade de parceiros/ poeta/ só de amores, mesmo que não verdadeiros”.
Hoje, sob chuva serrana, você se aninhará de volta ao peito de sua mãe. Você se lembra, Ronaldo, que também chovia quando Dona Nenzinha foi a Deus? Naquela tarde chuvosa como a de hoje, eu lhe dizia que até a Natureza chorava despedindo-se dela. E hoje, essa mesma Natureza chora por você, como choram seus leais amigos. Era assim que falavam os antigos, a Natureza chora na hora da morte daqueles que são do bem.
Hoje, poeta, você não nos deixa. Hoje, você apenas muda de casa. Você agora estará em nova casa, aquela que em terceto você assim falou: “a casa do poeta tem afeto/ tem rimas se arrumando pelo teto/ tem versos se espalhando pelo chão”. Longe das inconstâncias desta vida atribulada, você agora viverá a alegria perene do versejar dos poetas que lhe prepararam o caminho. Você gozará da verve de Augusto dos Anjos, seu vate maior: de Zé da Luz, seu patrono acadêmico campinense; de Eliseu Cesar, seu patrono acadêmico paraibano; de Celso Novais, seu antecessor acadêmico, dentre tantos da sua constelação.
Mas, Ronaldo, a Academia de Letras de Campina Grande, a nossa academia que hoje presido e na qual com alegria você me acolheu, guardará eternamente sua lembrança, tal qual você quis, quando você escreveu: “quando eu for pra eternidade/ onde só Deus me alcança/ eu não quero ser saudade/ já me basta ser lembrança”. Na verdade, Ronaldo Cunha Lima, nela você não será lembrança, nela você será sempre presente, até porque sua presença transcendeu os próprios limites dela. Por isto, a nossa mensagem em grinalda para suas exéquias dizia: “não foste, és imortal”. Descanse em paz, nobre poeta.
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 10/07/2012